A guinada cultural veio na mesma hora em que a Alpargatas entregou resultados acima das expectativas do mercado – em EBITDA e na lucratividade por par de sandálA guinada cultural veio na mesma hora em que a Alpargatas entregou resultados acima das expectativas do mercado – em EBITDA e na lucratividade por par de sandál

A Alpargatas nunca esteve tão eficiente. Se encontrar o rumo lá fora, o lucro pode explodir

2025/12/17 20:39

De Milão a Londres, passando por Copenhague, as Havaianas voltaram a ocupar um lugar improvável: as passarelas das principais semanas de moda do mundo. 

Nos últimos meses, grifes como Dolce & Gabbana, OperaSport e Natasha Zinko levaram a marca brasileira para seus desfiles. 

Ao mesmo tempo, o The Lyst Index – uma publicação que capta o desejo espontâneo de 160 milhões de consumidores no mundo – colocou os flip-flops da Havaianas como o hottest product do terceiro trimestre, à frente de peças da Saint Laurent e da COS.

A guinada cultural veio na mesma hora em que a Alpargatas entregou resultados acima das expectativas do mercado – em EBITDA e na lucratividade por par de sandálias – um sinal de que o turnaround dos últimos anos começa a aparecer tanto no imaginário do consumidor quanto nos demonstrativos financeiros. 

“Pela primeira vez em anos, todos os ventos sopram na mesma direção para a Alpargatas,” o CEO Liel Miranda disse ao Brazil Journal. “O chinelo está de novo na moda. A Havaianas está na moda.”

(Assista aos principais trechos da entrevista no vídeo acima.)

Mas apesar do entusiasmo recente, uma parte relevante do buyside ainda hesita em acreditar que “agora vai”.

A expansão internacional da Alpargatas já frustrou os investidores em outras gestões, o que deixa parte do mercado ressabiado. 

“É difícil entender o porquê da Havaianas não ter vendido mais no exterior até hoje,” disse um gestor. 

Ainda assim, é praticamente unânime o sentimento de que a execução da companhia mudou de patamar. 

No terceiro tri, a companhia alcançou o maior EBITDA consolidado da história, assim como sua melhor rentabilidade por par. 

De julho a setembro, o EBITDA chegou a R$ 261,5 milhões, mais que o dobro do ano anterior. A margem EBITDA subiu 11,5 pontos e fechou o tri em 23,4%. 

Já o EBITDA por par bateu R$ 5,01 – um salto expressivo considerando que esse valor havia caído para R$ 3,50 em 2022. O lucro líquido avançou 131% para R$ 174 milhões.

O mercado gostou dos números.

A ação da Alpargatas sobe 90% nos últimos doze meses, embora ainda esteja quase 80% abaixo do pico observado durante a pandemia. 

“A companhia está performando bem operacionalmente e as margens mostram uma recuperação sólida, mas o ponto de atenção continua sendo a retomada do crescimento do volume e a operação internacional,” disse Danniela Eiger, que cobre a empresa na XP. 

Liel disse que os atuais patamares vieram para ficar. Isso porque, segundo ele, a recuperação das margens não veio de um único movimento, mas de uma reengenharia profunda na operação.

A companhia reduziu pela metade seu número de SKUs, reorganizou o marketing, enxugou processos, cortou desperdícios e revisou sua estrutura de custos industriais e logísticos. Liel Miranda

Um exemplo é a queda no tempo de desenvolvimento de produtos. Se antes um novo produto demorava 19 meses para sair do esboço de um desenho até chegar às lojas, esse ‘time to market’ agora é de 12 meses.

“Estamos testando coleções que saem em seis meses, o que permite respondermos mais rapidamente à moda, corrigir rota de produtos e capturar tendências que antes passavam batido,” disse Liel.

Para completar, o On Time in Full (OTIF) – um indicador de desempenho logístico que mostra a eficiência da empresa na entrega de seus produtos – chegou a 90%. Em 2023, essa métrica era de apenas 25%.

Mas o volume ainda é um prego no chinelo da Alpargatas. No Brasil, o número de pares vendidos caiu 3,1%. A operação internacional, por sua vez, subiu 7%, mas ainda está distante dos números registrados no início da década.

Liel admite que o atual nível de volume também não está agradando internamente – mas não enxerga isso como o principal fator a ser analisado.

Segundo ele, com a maior eficiência interna, a companhia tem experimentado uma retomada das vendas nos canais mais rentáveis, como o varejo especializado (que inclui lojas de departamento e multimarcas).

Além disso, Liel enxerga o crescimento em segmentos como o masculino e o infantil como preponderante para a melhora dos resultados financeiros. 

“A empresa ficou mais simples, mais eficiente e menos dependente de volume para entregar margem,” disse o CEO.

Na operação internacional também há sinais positivos. A Europa voltou a crescer após anos de queda, apoiada em uma execução mais estável e em indicadores de demanda mais fortes; a Ásia avança double digits; e, nos Estados Unidos, a troca do modelo operacional deve destravar o volume.

Em junho, a empresa celebrou um contrato de fornecimento com o Eastman Group que o torna distribuidor exclusivo da marca nos Estados Unidos. O Eastman atua como distribuidor no mercado americano desde 1939, e é um dos principais do país.

“No mercado americano, nós sofríamos com o efeito Tostines: éramos pequenos porque não estávamos bem distribuídos. Com o Eastman, isso deve mudar,” disse Liel.

A Alpargatas também mudou a abordagem do marketing, especialmente na Europa. Se antes cada país tinha sua própria estratégia, o novo mantra virou: “local first, but not only.”

Para ele, a Havaianas só destrava seu potencial fora do Brasil quando cada mercado recebe um portfólio próprio – com cores, modelos, preços e ciclos de compra ajustados ao clima e aos varejistas locais – mas sem perder a força cultural global.

Por isso, toda a estratégia de marketing agora é unificada. Um exemplo foi a escolha da modelo americana Gigi Hadid, com mais de 80 milhões de seguidores nas redes sociais, como garota-propaganda.

“Se a estratégia internacional da Alpargatas der certo, o lucro vai explodir,” disse um gestor que era comprado na ação mas desmontou a posição após a alta recente. 

Com o plano em andamento, a empresa espera reverter o EBITDA negativo da operação internacional no médio prazo. No terceiro tri, a linha veio negativa em R$ 6 milhões e a margem EBITDA ficou em -3%. Um ano antes, a margem estava negativa em 23,4%. 

O UBS BB enxerga a empresa no caminho certo. Recentemente, o banco deu um upgrade no papel para buy, colocando a reformulação da operação internacional como um dos destaques. 

Mesmo com a alta recente, o analista Vinicius Strano vê o papel negociando perto de 11x o lucro dos próximos doze meses – abaixo da média histórica de 15x. 

“Mas para que a ação volte a negociar mais próxima do prêmio histórico, é fundamental que a empresa entregue finalmente a expansão internacional,” disse Vinicius. 

O analista também enxerga outros gatilhos.

Depois de a Alpargatas pagar absurdos US$ 475 milhões por 49,9% da Rothy’s em 2022, o analista acredita que um catalisador para a ação seria a venda do ativo – apesar da posição de caixa líquido da Rothy’s (hoje em US$ 160 milhões) oferecer uma proteção à Alpargatas. 

Em novembro, a Alpargatas anunciou que decidiu não exercer a opção de compra dos outros 50,1%. 

O body language de Liel, no entanto, sugere que a empresa vai manter o ativo. 

“A Rothy’s é uma empresa que cresce acima de 10% ao ano em top line, tem um EBITDA positivo, que também cresce acima de 10% ao ano. É um bom negócio e a marca é boa,” disse. 

Outro ponto positivo é a geração de fluxo de caixa livre da companhia. Vinicius, do UBS BB, calcula que após o turnaround a Alpargatas precisará investir menos nos próximos anos, o que deve ampliar sua distribuição de dividendos. 

O analista também aponta que a queda de 50% no preço do butadieno – uma das principais matérias-primas para a borracha usada nas Havaianas – desde janeiro deve melhorar os resultados da empresa nos próximos trimestres. “Não vejo que o mercado tenha precificado isso,” disse. 

Liel corrobora o otimismo e diz que, sim, “agora vai”. 

“A fase de arrumar a casa acabou,” disse. “Agora é a fase de crescer.”

A Alpargatas vale R$ 7,7 bilhões na Bolsa. A Itaúsa e a família Moreira Salles controlam a companhia.

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